Detrás de cada janela vejo um circo em pleno espetáculo.
Mas, diferente de circos convencionais, o objetivo é entreter quem nele encena;
jamais quem o assiste. E talvez seja o que o torne tão mais interessante de ser
assistido. Fora isso, em tudo se assemelham. Comédias e tragédias, piruetas e
quedas, números arriscados e duvidosos. Também não sei quanto aos demais, mas
as tragédias são as que me causam maior admiração. Não pelo prazer sádico, mas
pela capacidade de absorver-lhes as sôfregas experiências.
Por mais que o homem fuja à dor, essa sempre o persegue. Mas
para aquele que é capaz de suportá-la, a esse pode ser entregue o deleite da
sabedoria, que sempre acompanha essa detestável e desesperadora condição. Mas o
que é a dor? Pode ser medida? Pode ser comparada? Posso dizer que a dor física
supera a dor da alma, ou que essa supera a anterior? Fato é que, para quem a
sofre, ela é sempre superior a qualquer outra.
Mas de volta aos espetáculos. Observe como boa parte desses
traça uma eterna fuga ao sofrimento, e tudo o que lhe condiz. Acovardados pela
incerteza ou motivados por prazeres mais simples, se rendem à simplória busca
pelo entretenimento facilitado e seguro. Que felizes sejam, mas não há muito
valor em observá-los. Exceto nas irônicas ocasiões onde, sorrateiramente, a dor
lhes recai. Há ainda aqueles que, na busca pelo deleite maior, cedo ou tarde se
esbarram com nossa detestada e inevitável protagonista. Mas, despreparados para
o encontro, ou demasiado fracos, se destroem em pranto. Uma venerável
demonstração da força que possui nossa personagem, a dor.
E finalmente, os mestres da tragédia. Homens que demonstram
seu valor e virtuosismo, a cada provação a que são submetidos. A superação dos
próprios limites é como uma característica inata a esses. E é a esses que me
agrada a observar e absorver. Como um parasita e voyeur, nesse circo de
horrores.
Por fim: não há dor que possa refrear o desejo copioso do
homem austero.
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