domingo, julho 29, 2012

Dor e circo




Detrás de cada janela vejo um circo em pleno espetáculo. Mas, diferente de circos convencionais, o objetivo é entreter quem nele encena; jamais quem o assiste. E talvez seja o que o torne tão mais interessante de ser assistido. Fora isso, em tudo se assemelham. Comédias e tragédias, piruetas e quedas, números arriscados e duvidosos. Também não sei quanto aos demais, mas as tragédias são as que me causam maior admiração. Não pelo prazer sádico, mas pela capacidade de absorver-lhes as sôfregas experiências.

Por mais que o homem fuja à dor, essa sempre o persegue. Mas para aquele que é capaz de suportá-la, a esse pode ser entregue o deleite da sabedoria, que sempre acompanha essa detestável e desesperadora condição. Mas o que é a dor? Pode ser medida? Pode ser comparada? Posso dizer que a dor física supera a dor da alma, ou que essa supera a anterior? Fato é que, para quem a sofre, ela é sempre superior a qualquer outra.

Mas de volta aos espetáculos. Observe como boa parte desses traça uma eterna fuga ao sofrimento, e tudo o que lhe condiz. Acovardados pela incerteza ou motivados por prazeres mais simples, se rendem à simplória busca pelo entretenimento facilitado e seguro. Que felizes sejam, mas não há muito valor em observá-los. Exceto nas irônicas ocasiões onde, sorrateiramente, a dor lhes recai. Há ainda aqueles que, na busca pelo deleite maior, cedo ou tarde se esbarram com nossa detestada e inevitável protagonista. Mas, despreparados para o encontro, ou demasiado fracos, se destroem em pranto. Uma venerável demonstração da força que possui nossa personagem, a dor.

E finalmente, os mestres da tragédia. Homens que demonstram seu valor e virtuosismo, a cada provação a que são submetidos. A superação dos próprios limites é como uma característica inata a esses. E é a esses que me agrada a observar e absorver. Como um parasita e voyeur, nesse circo de horrores.

Por fim: não há dor que possa refrear o desejo copioso do homem austero.