sexta-feira, julho 03, 2020

Tempo vem, tempo vai...
sento-me e aguardo.
O clima é bom, a tarde singela,
ai de mim se soubesse
a torrente que nos espera.

Ao longe o sorriso dissimulado
de uma dor contida.
No peito o descompasso
de toda desilusão vivida
que ao léu nos lança a sorte.

Repleto de ódio ouvi o mundo
a lhe jogar tijolos.
Impotente eu vi
a vida te molhar os olhos...

Tempo vai, tempo vem...
o que era doce se amargura.
Aquilo que nos encantava
inocente de toda penúria
dissolve-se em ácida chuva.

Em multicolorida plumagem
nos segue o maldito pássaro.
Apesar do bonito cantar
não se engane:
Seu projeto é atazanar.

Pesaroso vi meus defeitos
espelhados no seu rosto.
Como um bêbado acreditei
entender o seu desgosto.

Tempo que foi
apesar de não ter vindo.
Brejeira, a chuva cai;
um raio te ilumina;
leviana poesia...

Remando contra a corrente,
ancorado ao espelho d'água,
vejo a água que te beija a pele.
Falta o verbo que nos cubra a mágoa.
Tão efêmero o que nos reuniu...

Encharcado observo o sorriso
que em seu rosto renasce.
Extasiado admiro
a leveza em sua face.

Tempo que,
ao mesmo tempo que vem, vai.
Num piscar de olhos
retorna-se ao ponto de partida.
Tão cíclica é a vida...

Debruçados à sacada,
num descuido da atenção,
o grito desprendido.
O ferrão.
Cômica tragédia.

Em silêncio
contemplei sua compaixão.
Alucinado assisti
a morte em comunhão.

Tempo que de repente veio
e logo foi-se.
Livres de toda pretensão
vemo-nos obrigados a admitir
que nada nos restou.

A música, embora sempre presente,
no delírio vê se transformar.
Num verso a verdade
exposta pelo brilho no olhar,
noutro a loucura a pairar.

Imprudente
descubro-lhe os olhos.
Expostos
fritando os miolos.

Tempo que nunca foi.
Tempo que nunca será.

sexta-feira, abril 03, 2015

Let's dance around the bonfire


You, oh you, my friend
From such a distant land
Shall sleep, while I
must die.

In your pessimistic optimism
You laugh from my cynism
Within this crazy dream
of mine.

In your slavic tone
Prepare for me a song
That we shall sing
in rhymes.

At the very begin of May
We'll dance the entire day
Around the warm
Bonfire.

You'll be my inspiration
I'll make you a dedication
that will transcend
The time.

terça-feira, agosto 26, 2014

De dez, em dez, a dez...



Dez mil rostos à la carte desfilando pela rua. Dez mil horas de espera para nunca vê-la nua. Dez mil corpos desmembrados pelos deuses do passado. Dez mil dias miserável, vagaroso e retardado.  Dez mil copos de cerveja pelo bem da sanidade. Dez mil anos de sossego, por capricho ou vaidade. Dez acordos diplomáticos, pelo bem da humanidade. Dez as graças que me trazem a justiça e a humildade. Dez avisos luminosos destacando sua sacada. Dez motivos deprimentes que mataram minha amada. Desisti de ser um gênio aos dez anos de idade. Dei de ombros quando vi que nada disso era verdade. Das mil dores que ouvi, cruelmente arrancadas; Sempre soube que as suas foram as mais perturbadas. Dez bilhões de habitantes. E nenhum que me encante.

domingo, agosto 17, 2014

Porque desisti de cursar letras

Uma aula
numa sala
eterna fala

Professora
que ecoa
sons à toa

Da escrita
que habita
nossa vida

Enredando
No comando
revelando

Horas ralas
vossas falas
mil palavras
nunca calas

sábado, junho 28, 2014

Lua

Em posse de sua atenção
A lua, na portela
já não sente solidão.
É a mesma lua, na viela;
que de certo, sem razão;
Sem o pudor que havia nela
Põe pra longe a escuridão.
Vê Luana, na janela,
E se ilumina de emoção.
Ergue a moça, com cautela,
Que aos poucos sai do chão.

Que beleza mais singela
Ver Luana, na janela,
com a lua em comunhão.

quarta-feira, março 05, 2014

Turbilhão

Rodopia, inquieto pensamento?
Não cansa de ser um tormento?
Então deseja-me atento?
Pois suma com o vento!
Comece e eu te invento:

Não brinque com a sorte,
Não espreite a morte,
Não tente ser forte
Não veja o corte.
Não que eu me importe...

E observe na rua:
Essa ferida nua,
Cratera da lua.
A noite recua
Expondo a sua.

A clara vitória
De sorte, trás glória.
Talvez é notória.
Me parece irrisória.
Ou mesmo aleatória.

Mergulhe em loucura
Se afaste da cura
da luz que perfura
Do beijo, doçura.
E a vida? Argh! Dura...

Tão bela e formosa;
Cruel... vaporosa;
Demente, assombrosa;
Tristeza voluptuosa.
Derrota suntuosa.

Não dura um segundo
Tão limpo e imundo
O desejo do mundo
Que toque, profundo,
Um deus vagabundo.

E vaga, distante
Num vago instante
Loucura inconstante
Num voo rasante.
Coragem! Avante!

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Na ferida árida
O remédio tardio.
Espera ávida.
O tédio.
A fúria abatida.

Resquício de lucidez,
Conveniência.
Estranha nudez
Da experiência
Falta de sensatez.

O histérico riso.
A coragem repentina,
Heroico improviso
A mente, a sina.
Num Instante o rodopio,
O fim, a ravina.

A morte da razão.

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

No mais, talvez menos

Noite passada:
Eras luz;
Eras trevas;
Eras, tu, amada.
Tive medo.
Hesitei.
Não fiz nada...
Hoje penso
Perturbado:
"Que roubada".

Fruto da mente,
Vaga a luz;
Vago rastro
Diferente.
Passo largo;
Larga o copo
Ferozmente.
Ganha o mundo;
Muda o tempo.
E como mente.

Seja como for;
Tudo bem.
Veja lá.
Por amor;
Algo mais.
Talvez menos.
Pela dor
Com abuso
Comedido.
Com ardor.

quarta-feira, janeiro 29, 2014

Um rio de nada

Não escrevo mais poemas
embaralhar fonemas.
Não faz nenhum sentido
pra tudo o que eu vivo.

Não vejo mais sentido
incrementar meu livro
com frases soltas, loucas
que juntas somam poucas.

De tudo o que eu escrevo
ninguém chega a vê-lo
aquilo que me prende
é o que vos ofende.

Ofensas são pequenas
e formam nossas penas
a todos nos magoam
e lágrimas escoam.

Um rio já é formado
e passa em todo lado
não há como escapar
o grande serpentear.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Tardes de um verão chuvoso

Que me permita dizer, a tarde cruel,
Ainda que tomado pelo imenso desgosto
Ou tenha os lábios cerrados pelo fel,
Que talvez traspareça na doçura do rosto
O brilho esquivo de seu terno olhar
Iluminado pelo intenso vermelho solar.

Pelas palavras deste incauto orador
Não se torna viva toda expressividade
Nem é claro o que se sente com ardor
Pois não passa de um triste covarde.
Tão pobre, a esperançosa palavra
Que do fracasso se torna escrava.

Ainda que mil vezes lhe repetisse,
Quer seja por capricho ou vaidade,
Tudo o que desejava e que disse,
Não atingiria toda a profundidade
Do que as palavras não podem dizer.
De que outra maneira poderia ser?

Apesar disso, os dias se consomem
Cheios de tranquila naturalidade;
E ainda é viva, no peito do homem,
Uma vaga esperança, isso é verdade.
Quem sabe, na arte, ainda exista
Satisfação para o incomum artista.