Tempo vem, tempo vai...
sento-me e aguardo.
O clima é bom, a tarde singela,
ai de mim se soubesse
a torrente que nos espera.
Ao longe o sorriso dissimulado
de uma dor contida.
No peito o descompasso
de toda desilusão vivida
que ao léu nos lança a sorte.
Repleto de ódio ouvi o mundo
a lhe jogar tijolos.
Impotente eu vi
a vida te molhar os olhos...
Tempo vai, tempo vem...
o que era doce se amargura.
Aquilo que nos encantava
inocente de toda penúria
dissolve-se em ácida chuva.
Em multicolorida plumagem
nos segue o maldito pássaro.
Apesar do bonito cantar
não se engane:
Seu projeto é atazanar.
Pesaroso vi meus defeitos
espelhados no seu rosto.
Como um bêbado acreditei
entender o seu desgosto.
Tempo que foi
apesar de não ter vindo.
Brejeira, a chuva cai;
um raio te ilumina;
leviana poesia...
Remando contra a corrente,
ancorado ao espelho d'água,
vejo a água que te beija a pele.
Falta o verbo que nos cubra a mágoa.
Tão efêmero o que nos reuniu...
Encharcado observo o sorriso
que em seu rosto renasce.
Extasiado admiro
a leveza em sua face.
Tempo que,
ao mesmo tempo que vem, vai.
Num piscar de olhos
retorna-se ao ponto de partida.
Tão cíclica é a vida...
Debruçados à sacada,
num descuido da atenção,
o grito desprendido.
O ferrão.
Cômica tragédia.
Em silêncio
contemplei sua compaixão.
Alucinado assisti
a morte em comunhão.
Tempo que de repente veio
e logo foi-se.
Livres de toda pretensão
vemo-nos obrigados a admitir
que nada nos restou.
A música, embora sempre presente,
no delírio vê se transformar.
Num verso a verdade
exposta pelo brilho no olhar,
noutro a loucura a pairar.
Imprudente
descubro-lhe os olhos.
Expostos
fritando os miolos.
Tempo que nunca foi.
Tempo que nunca será.