quarta-feira, janeiro 29, 2014

Um rio de nada

Não escrevo mais poemas
embaralhar fonemas.
Não faz nenhum sentido
pra tudo o que eu vivo.

Não vejo mais sentido
incrementar meu livro
com frases soltas, loucas
que juntas somam poucas.

De tudo o que eu escrevo
ninguém chega a vê-lo
aquilo que me prende
é o que vos ofende.

Ofensas são pequenas
e formam nossas penas
a todos nos magoam
e lágrimas escoam.

Um rio já é formado
e passa em todo lado
não há como escapar
o grande serpentear.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Tardes de um verão chuvoso

Que me permita dizer, a tarde cruel,
Ainda que tomado pelo imenso desgosto
Ou tenha os lábios cerrados pelo fel,
Que talvez traspareça na doçura do rosto
O brilho esquivo de seu terno olhar
Iluminado pelo intenso vermelho solar.

Pelas palavras deste incauto orador
Não se torna viva toda expressividade
Nem é claro o que se sente com ardor
Pois não passa de um triste covarde.
Tão pobre, a esperançosa palavra
Que do fracasso se torna escrava.

Ainda que mil vezes lhe repetisse,
Quer seja por capricho ou vaidade,
Tudo o que desejava e que disse,
Não atingiria toda a profundidade
Do que as palavras não podem dizer.
De que outra maneira poderia ser?

Apesar disso, os dias se consomem
Cheios de tranquila naturalidade;
E ainda é viva, no peito do homem,
Uma vaga esperança, isso é verdade.
Quem sabe, na arte, ainda exista
Satisfação para o incomum artista.

sexta-feira, janeiro 10, 2014

Final

vaga a noite;
noite vaga
no escuro
do umbral.

Baixa a voz;
cabeça baixa
doce gesto
angelical.

Ouça o silencio;
silencia a alma
no deleite
carnal.

Dorme em paz;
deita e faz
memorável
o final.

sexta-feira, janeiro 03, 2014

Tradução


Pelas minhas curvas imperfeitas suas mãos deslizavam,
Levando-me à completa perdição, ao completo devaneio.
Suas mãos traduziam meu limite, que antes nunca havia sido revelado.
Corriam em toques suaves, na mais completa brandura.

Meu mundo se misturava com os delírios do amor,
Meu sustento era a droga alucinógena da sua paixão.
O que me fazias sentir era como magia.

Seus beijos, tão doces e macios,
Passavam por cada uma de minhas dobras,
Deixavam vestígios de ternura, idolatria e paixão.

E eu, em minha vergonha, deixei-me levar pelo seu suplicante ardor,
Não podia reagir ou resistir às suas caricias.
Meus sentidos não se sujeitavam mais a mim, deixei-me dominar por seus sussurros.
Palavras mudas que me exaltavam em uma inocente malícia.

Assim, somente você desvendara o que de mais secreto e único havia em mim.
Só você até então, viste meus mistérios.
Só você me deixou leve e indefesa como uma libélula.

Você, portanto, me deixou inteiramente traduzida.