quarta-feira, janeiro 15, 2014

Tardes de um verão chuvoso

Que me permita dizer, a tarde cruel,
Ainda que tomado pelo imenso desgosto
Ou tenha os lábios cerrados pelo fel,
Que talvez traspareça na doçura do rosto
O brilho esquivo de seu terno olhar
Iluminado pelo intenso vermelho solar.

Pelas palavras deste incauto orador
Não se torna viva toda expressividade
Nem é claro o que se sente com ardor
Pois não passa de um triste covarde.
Tão pobre, a esperançosa palavra
Que do fracasso se torna escrava.

Ainda que mil vezes lhe repetisse,
Quer seja por capricho ou vaidade,
Tudo o que desejava e que disse,
Não atingiria toda a profundidade
Do que as palavras não podem dizer.
De que outra maneira poderia ser?

Apesar disso, os dias se consomem
Cheios de tranquila naturalidade;
E ainda é viva, no peito do homem,
Uma vaga esperança, isso é verdade.
Quem sabe, na arte, ainda exista
Satisfação para o incomum artista.

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